No fim, há uma história para contar
Foi no meio de um mercado em Delhi. Quem me conhece sabe que não sou dada a grandes loucuras de compras, principalmente em viagens: a ideia de andar com toneladas de coisas atrás detém-me, deixando apenas espaço para o que é realmente importante, ou seja, para algo que realmente tenha significado.
Voltando ao mercado. Despertou-me a curiosidade aquela peça dourada onde, irrepreensivelmente, estavam gravados números, dias, letras, entre preto e vermelho, flores e instruções…
“It is a calendar for the next 40 years, Mam! All the possible combinations of days you will find there!”, respondeu o senhor e eu sorri e segui caminho! Fiquei a pensar naquilo enquanto espreitava entre os incensos, as cores e a música das bancas seguintes…
“Um calendário para os próximos 40 anos, naquele pedaço de lata dourada? Todos os meus dias dos próximos 40 anos, da minha vida vá!, na palma da mão?! Uau! Quero!”, e enquanto sorria, tipo criança!, voltei atrás para trazer comigo aquele “pedaço de vida”.
Só me lembro de voltar a pegar no calendário e ficar parada, perdida numa imensidão de emoções como se toda a minha vida se pudesse passar num sonho, num instante!
Imaginei-me a contar o sonho como uma história, a minha!, e quem me ouvia fazia-o sem pestanejar e com a curiosidade de quem tem a vida pela frente! Apesar disso, no sonho, não consegui distinguir pessoas, sítios ou qualquer detalhe daqueles que constroem os nossos dias… Apenas uma sensação enorme de paz e amor, de quem viveu uma vida por inteiro: de quem amou por inteiro, se entregou por inteiro (ao Mundo e à Vida!), de quem confiou que cada dia estava exactamente do dia que deveria estar…. que tudo está, infinitamente, ligado! Detive-me naquele instante e guardei-o na memória e no coração, enquanto o senhor embrulhava o calendário num papel amachucado.
Hoje, sempre que olho, volto àquele instante onde, metaforicamente, tive a vida toda na palma da mão!
Todos os encontros e desencontros, todas as escolhas, todas as pessoas, todo o Amor, todos os sorrisos e lágrimas, todos os lugares, toda a Paixão, todas as borboletas na barriga, todas as vezes que o coração doeu, tudo…. TUDO! Recordo a certeza de que o que acontece, todos os dias, está também na minha mão, nas minhas escolhas e penso na imensidão de vidas que podem ser a minha Vida! Mais ainda… penso nas pessoas à minha volta e nas suas vidas nas palma da mão…E é nesse lugar, onde tudo se toca, que me dispo de regras e suposições, “certos” e “errados”, e me deixo envolver pela certeza de que enquanto me lembrar na vida na palma da mão, será sempre mais importante Ser por inteiro, sempre e em tudo, e fazer com que valha a pena!
Há uma história para contar no fim…. e essa, quero que seja inspiradora!
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